Imortalizada no conhecidíssimo Manuscrito 512, a trama tem como elemento principal um assunto recorrente nas histórias da Chapada Diamantina: a mineração.
No século 16, o português Diogo Alves sobreviveu a um naufrágio. Resgatado das águas por indígenas brasileiros, o homem passou o resto da vida vivendo entre os nativos e teve vários filhos na nova terra. Um dos descendentes gerados por Alves foi um rapaz de nome Muribeca, que encontrou uma grandiosa jazida com diversos minérios preciosos, como ouro, prata e diamantes.
Anos depois, ele decidiu se utilizar de tal fama para conseguir se tornar marquês. Assim, diante da Coroa Portuguesa, jurou que conhecia a localização das minas e que a entregaria em troca do título de nobreza. Mais tarde, porém, arrependeu-se do combinado e não entregou o mapa do tesouro. Por isso, acabou preso e faleceu em seguida guardando consigo o poderoso segredo.
Verídica ou não, toda essa história foi suficiente para inflamar a ambição de muitos exploradores. Na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, até hoje, há um famoso manuscrito — de número 512 — que narra a saga de uma expedição rumo ao sertão baiano com o intuito de encontrar as cobiçadas Minas de Muribeca.
Segundo o carcomido documento, sob a liderança de Francisco Raposo, bandeirantes partiram em busca das velhas jazidas, mas encontraram algo ainda mais impressionante: uma montanha imensa e completamente brilhante.
Embora não haja a definição exata do local, o texto dá pistas que se encaixam nas paisagens da Chapada Diamantina. De acordo com o relato, no topo da grandiosa formação rochosa, havia uma cidade perdida. Na entrada, os viajantes viram três arcos e, na praça, puderam contemplar uma enorme pedra preta com inscrições desconhecidas e ainda a estátua de um homem cujo dedo indicador apontava para o norte.
Explorando o lugar, os homens perceberam que as casas e os templos estavam destruídos e que não havia humanos por ali — tudo foi aparentemente alvo de um terremoto. Durante a visita ao enigmático território, eles também encontraram rios, cachoeiras e uma moeda com faces que exibiam as seguintes figuras: um homem ajoelhado, uma coroa, um arco e uma flecha. Por fim, os desbravadores se depararam com enormes pedras de ouro e se convenceram que estavam, finalmente, nas arcaicas Minas de Muribeca.
No livro Cidades imaginárias do Brasil, o doutor em História Johnni Langer afirma que, posteriormente, outras expedições rumaram-se em direção ao coração da Bahia no encalço das ruínas mencionadas no Manuscrito 512. Uma delas foi organizada pelo cônego Benigno José de Carvalho. E ele acreditava seguramente que a cidade se situava na Serra do Sincorá. Há quem diga que o religioso vagou durante nove anos pela centro da Bahia e morreu sem alcançar seu objetivo. Outros declaram que ele localizou as minas e a cidade, mas foi proibido pela Igreja de divulgar a descoberta.
Em 1848, em um artigo para a Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, o major Manoel de Oliveira afirmou que a cidade perdida estava localizada, na verdade, perto do Paraguaçu, rio que atravessa vários municípios da Chapada Diamantina. Para defender sua tese, o oficial do Exército diz ter coletado relatos de fazendeiros da região que encontraram louças, cerâmicas, telhas e machados supostamente vindos das ruínas misteriosas.
A Chapada Diamantina já foi vista como cenário de várias outras metrópoles lendárias, como Agartha, Atlântida e o Eldorado. Mas a trama da montanha brilhante com suas minas soa mais crível porque nela, ao contrário das outras histórias, não há grandes elementos fantásticos, conforme explica o historiador Johnni Langer.
Diante disso, fica a pergunta: será que, como cantou Rita Lee, “toda lenda é pura verdade”?