A história da Chapada Diamantina

Um mar. Antes do povoamento humano, a Chapada Diamantina era apenas um mar, o Mar do Espinhaço. Grande e solitário, ele levou milhões de anos sem apresentar vestígios de vida em suas águas. Em seguida, passou por inúmeras alterações no relevo, virou deserto, transformou-se em geleira, tornou-se mar de novo e gerou seres grandiosos, como os dinossauros.

Depois da extinção dos ferozes répteis, outros acontecimentos se desenrolaram: os territórios que hoje são conhecidos como América Central, América do Norte e América do Sul se uniram e houve um intercâmbio de outros animais gigantes, como ursos, tatus e elefantes. Posteriormente, uma fase glacial extinguiu a opulente fauna que vagava pela Terra. Nessa época, a Chapada deu origem a mais uma de suas espécies impressionantes: o homem.

Povos primitivos

Os primeiros humanos da Chapada Diamantina viveram entre 12 e 3 mil anos atrás. Nômades e sem líderes, organizavam-se em grupos de aproximadamente 30 indivíduos. Juntos, eles caçavam, coletavam e moravam nas cavernas da região. Pinturas rupestres encontradas ainda hoje na Serra das Paridas, em Lençóis, são vestígios desse período histórico.

Diferentes povos indígenas também habitaram a região por muitos séculos. Payayás, maracás, aimorés, topins, tapuias e botocudos se espalharam pelos vários lugarejos da Chapada e construíram com força e bravura suas aldeias. No século 16, contudo, a vida dos indígenas passou a ser ameaçada pela chegada de novos visitantes: os aventureiros e bandeirantes. Fascinados pela riqueza naturais do centro da Bahia, esses homens começaram a explorar as terras dos povos primitivos. 

O garimpo

No fim do século 17, a caça aos minérios preciosos ganha força. Em 1844, por acaso, o fazendeiro Cazuza do Prado descobre os primeiros diamantes da região nas margens do rio Cumbucas, em Mucugê. Quando a notícia dos achados se espalha, cerca de 30 mil pessoas entram na Serra do Sincorá e começam a desbravar todas as áreas vizinhas. A busca alucinada por riquezas minerais atraiu escravos, jagunços, prostitutas e até crianças.

A convivência entre tantos indivíduos diferentes, porém, não foi das melhores. De um lado, paulistas, mineiros, lavradores, fugitivos e boiadeiros formaram uma equipe de exploradores. Na outra ala, comerciantes da capital e senhores de engenho com escravos também queriam uma expressiva fatia dos tesouros. Detentores do controle da exportação das pedras e responsáveis por distribuir mantimentos, o segundo grupo fez nascer uma tensão que culminou na Guerra do Mata-Maroto. Esse conflito ocorreu em 1831 e só terminou com a intervenção do Governo da Província.

Nos próximos 30 anos, Lençóis se firma como umas das principais representantes das Lavras Diamantinas e ganha o direito de eleger um líder para o Senado Estadual e membros para o Conselho Municipal. Baianos e mineiros (chamados também de serranos) entraram na disputa. Posteriormente, esses dois grupos se filiaram a partidos políticos de Salvador.

Quando ocorre a Proclamação da República, os governantes da capital precisavam manter os eleitores sob controle e, para conseguirem apoio, passaram a formar alianças com os chefes do sertão. Os grandes proprietários de terra da Chapada Diamantina se tornaram, então, influências políticas e econômicas ao mesmo tempo. Eles tinham, inclusive, o direito de nomearem dirigentes para várias instituições: coletorias, órgãos de justiça e polícia local.

Diamantes em decadência

No fim do século 19, a mineração entra em crise na Chapada Diamantina. Por conta da incansável busca pelos diamantes, as pedras preciosas foram ficando cada vez mais raras. Além disso, a descoberta de uma enorme jazida na África do Sul atraiu todas as atenções que antes estavam voltadas para a região.

Ao mesmo tempo, as disputas entre coronéis se acirravam. Nesse período, vale destacar a presença de Horácio de Mattos, que matou o coronel Rodrigo Coelho, de Barra do Mendes, para vingar a morte do irmão, e afugentou até mesmo a polícia e a Coluna Prestes. Entretanto, depois da Revolução de 1930, Horácio de Mattos se rendeu ao desarmamento propagado pelo governo. Sem armas, o valente coronel foi preso e morto.

Com o fim da mineração e sem forças políticas, a Chapada Diamantina viveu um longo momento de estagnação.  Garimpos e cafezais em São Paulo, Paraná e Mato Grosso atraíram o povo da região. Por aqui, ficaram apenas aqueles que não tiveram nenhuma oportunidade de viajar.

Na década de 1980, ainda houve uma tentativa de reavivar o garimpo com maquinário capaz de realizar escavações mais profundas. A ideia, contudo, não foi muito longe. Com a criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina, em 1985, para preservar a biodiversidade da região, as atividades mineradoras foram sendo cada vez menos valorizadas — até serem totalmente proibidas em 1996.

Turismo, um novo capítulo

O fim do garimpo descortinou uma nova potência para a região: o turismo. Por aqui, as atividades turísticas atendem a públicos variados. Há opções de turismo rural, que permite contato com atividades do campo, como agricultura e criação de animais; turismo pedagógico, para fomentar atividades educativas sobre a história, a geologia e a biodiversidade locais; turismo cultural, por meio de festas, eventos musicais e apresentações folclóricas; e ainda o turismo terapêutico, cujo objetivo é promover o bem-estar, retiros de cura e momentos de reflexão.

Formada por uma natureza rica e repleta de atrativos, a Chapada Diamantina seguirá sendo protagonista de uma história infinita. Essa história começou em um mar solitário e sem vida. Lembra? Hoje, porém, ela continua de maneira diferente. Agora ela vibra em dezenas de cachoeiras exuberantes e conta com importantes personagens, espectadores e admiradores: nós e você.   

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