“Maria, Maria”, a novela de Manoel Carlos inspirada na Chapada Diamantina

Quando se fala em novelas de Manoel Carlos, a primeira imagem que surge na mente da maioria dos brasileiros são os dramas sofisticados ambientados no Leblon, no Rio de Janeiro, sempre protagonizados por uma mulher chamada Helena.

Muito antes das Helenas do Leblon, Maneco criou sua primeira protagonista a partir de “Maria Dusá”, romance sobre as Lavras Diamantinas

Quando se fala em novelas de Manoel Carlos, a primeira imagem que surge na mente da maioria dos brasileiros são os dramas sofisticados ambientados no Leblon, no Rio de Janeiro, sempre protagonizados por uma mulher chamada Helena. No entanto, antes de sua consagrada fórmula narrativa, o autor fez estreia no universo das telenovelas com uma história ambientada no sertão baiano do século 19.

Lançada em 1978 pela TV Globo, “Maria, Maria” foi inspirada no romance Maria Dusá, de Lindolfo Rocha, e trouxe para a televisão um enredo baseado na dura realidade da seca que assolou a Chapada Diamantina em 1860. Com direção de Herval Rossano e protagonismo de Nívea Maria, que interpretou duas irmãs gêmeas, a saga folhetinesca apresentou ao Brasil um retrato das dificuldades e das tradições da região das Lavras Diamantinas.

O romance que deu origem à novela

A obra Maria Dusá foi escrita por Lindolfo Rocha, que passou boa parte de sua vida entre Minas Gerais e a Bahia. Segundo o pesquisador Ismael Fernandes, na obra Memória da Telenovela Brasileira, o autor caiu no esquecimento por muitos anos, até ser resgatado por Manoel Carlos. Em entrevista para o livro Autores: histórias da teledramaturgia, Maneco revela que conheceu o livro por meio da recomendação do também escritor Fernando Sabino e decidiu adaptá-lo para a televisão.

O enredo de Maria, Maria gira em torno de duas irmãs que não se conhecem: Maria Alves e Maria Dusá, ambas interpretadas por Nívea Maria. Criadas em mundos completamente diferentes, as gêmeas vivem realidades opostas. Maria Alves, filha de um sertanejo humilde, é entregue ao tropeiro Ricardo Brandão (Cláudio Cavalcante) em troca de mantimentos, mas ele desiste do acordo e segue viagem. No entanto, os dois acabam se apaixonando. Tempos depois, Ricardo conhece Maria Dusá, mulher rica e orgulhosa que vive no mesmo vilarejo. Para ele, Maria Dusá é a pobre moça que ele conheceu no passado e que agora o despreza por ter enriquecido.

Movido pela desilusão, Ricardo se lança na mineração de diamantes para se tornar um homem rico — sem saber que está no meio de um grande jogo do destino envolvendo as duas irmãs.

O contexto histórico da trama

O pano de fundo de Maria, Maria não é apenas um drama ficcional. A seca de 1860, que atingiu violentamente a Chapada Diamantina, é um dos elementos centrais da narrativa. Segundo a historiadora Graciela Rodrigues Gonçalves, a crise da época foi tão grave que, após muitos pedidos, o governo provincial precisou distribuir farinha de mandioca para os moradores das cidades de Lençóis, Andaraí e Rio de Contas. É nesse contexto de extrema escassez que se desenvolve a trama da novela, que aborda inicialmente o impacto da seca na população local e a luta pela sobrevivência em meio à miséria.

A Chapada Diamantina representada na televisão

Apesar de a história ser ambientada na Chapada Diamantina, as gravações de Maria, Maria não ocorreram na região. Para recriar o sertão baiano, a TV Globo construiu uma cidade cenográfica em Barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, e transformou uma área de 100 mil metros quadrados em Maricá em um cenário árido para representar os garimpos da Chapada.

No entanto, mesmo sem gravações in loco, a novela trouxe constantes menções a locais reais da região, como Mucugê, Lençóis e Xique-Xique, uma referência ao antigo nome de Igatu.

O vilarejo de Mucugê tem um papel simbólico na história, pois é onde Ricardo presenteia Maria Alves com uma medalha de prata, símbolo do amor que os une. Além disso, é nesse local que vive um curioso personagem: o “Homem de Mucugê”.

Nívea Maria e as primeiras “Helenas”

A atriz Nívea Maria, que interpretou as gêmeas Maria Alves e Maria Dusá, considera esse um dos papéis mais importantes de sua carreira. Em depoimento ao Memória Globo, ela afirmou que enxerga essas personagens como as primeiras “Helenas” de Manoel Carlos – protagonistas femininas marcantes que se tornariam a assinatura do autor nas décadas seguintes.

O legado de “Maria, Maria”

Embora tenha sido exibida há mais de 40 anos e não seja tão lembrada quanto outras novelas de Manoel Carlos, Maria, Maria tem um lugar especial na história da teledramaturgia brasileira. Além de marcar a estreia do autor nas novelas, a trama trouxe para o grande público um pedaço da história da Chapada Diamantina, mesmo que de forma ficcional.

A novela também ajudou a resgatar o livro Maria Dusá do esquecimento, trazendo à tona a obra de Lindolfo Rocha e reforçando a importância das adaptações literárias para a televisão.

Hoje, a Chapada Diamantina continua servindo de inspiração para outras produções audiovisuais: documentários, filmes e outras novelas, como Pedra sobre Pedra.

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